Abstract: the planning, design and construction of two replicas of Roman mills described in the preceding paragraphs, which were placed in Museun Interpretive Center Tresminas from December 2014 to February 2015 (original article in Portuguese)
A aldeia de Tresminas, sede da freguesia de Tresminas, do concelho de Vila Pouca de Aguiar, deve o seu nome ao conjunto de arqueologia mineira de Três Minas, imóvel de interesse público desde 1988 por despacho da secretaria de estado da cultura portuguesa com base no dec-lei nº 181/70 de 18 de Abril.
Considerado, segundo J.e R. Wahl, como um dos mais importantes conjuntos de arqueologia mineira da época romana, foi, provavelmente, já durante o reinado de Augusto (27 a.C.-14 d.C.), que se iniciou a sua exploração sistemática que se prolongou até segunda metade do século II d.C., já na época de Sétimo Severo (193-211 d.C.).
Os séculos I e II d.C. foram de intensa atividade mineira, num sistema que complementou a extração de ouro a céu aberto, nas cortas mineiras, com as infraestruturas subterrâneas vocacionadas para o escoamento e transporte do minério e estéril.
Um dos aspetos mais interessantes deste conjunto monumental reside no processo de tratamento de ouro, descrito ainda no século I d.C. pelo naturista Plínio, o Velho.
Com efeito, os engenhos utilizados nas primeiras fases deste enriquecimento aurífero – trituração e moagem da rocha – assumem-se como elementos identitários do Complexo Mineiro Romano de Tresminas, pela quantidade e homogeneidade dos vestígios identificados ao longo dos últimos séculos.
A dinâmica interna desta área mineira constitui um dos temas centrais da exposição a integrar o Centro Interpretativo de Tresminas, estruturado em dois corpos construtivos distintos que se articulam com a Igreja Românica de São Miguel de Tresminas, formando um núcleo museológico com vários nucleos de enquadramento histórico-cultural e natural desta região.
O enriquecimento aurífero de jazidas primárias em época romana pressupunha, de acordo com a documentação clássica (Naturalis Historia XXXIII: 69), operações como a trituração e a moagem da rocha, a lavagem e o tratamento metalúrgico para purificação do ouro. De entre estas, as fases mais bem documentadas no Complexo Mineiro Romano de Tresminas correspondem à trituração e moagem, levadas a cabo em moinhos construídos para o efeito, dos quais se preservaram em escala significativa as respetivas bases, em granito.
A trituração da rocha mineralizada, no presente caso o xisto, seria levado a cabo num engenho tradicionalmente designado por “moinho de pilões”. Esta estrutura, cuja força motriz poderia ser a energia hidráulica ou, na ausência desta, a força humana ou animal, seria composta por um recetáculo em madeira e uma base em granito, correspondente a um paralelepípedo cujas dimensões ascendem a 90cm / 100cm x 45cm / 50cm x 45cm / 50 cm, ou seja, sensivelmente 3 x 1,5 x 1,5 pés romanos. Os pilões, em madeira mas revestidos nas extremidades com ferro, localizar-se-iam no referido recetáculo, emparelhados quatro a quatro, e, mediante um eixo horizontal de ressaltado que deveria estar ligado a um tambor a ser acionado pela força humana/ animal, triturariam a rocha mineralizada.
Numa segunda fase, a moagem da rocha far-se-ia em moinhos idênticos aos da moagem de cereais, cuja força motriz também poderia ser hidráulica ou humana.
Em Janeiro e Fevereiro de 2015 o Passado Vivo realizou o planeamento, concepção e construção das duas réplicas de moinhos romanos descritas nos pontos anteriores, que foram colocadas no Centro Interpretativo Museológico de Tresminas.
Em colaboração com o Mestre Artesão Francisco Esteves, foi construído um moinho de pilões, utilizado para trituração da rocha mineralizada, e um moinho rotativo de marcha lenta, utilizado na pulverização da rocha entretanto triturada.
Este foi um projeto com grande valor histórico através da recriação da tecnologia romana e a construção com materiais da época.
Foram utilizadas madeiras que existiam na época romana da região da edificação, como seja o Carvalho e o Freixo.
Além disso, os encaixes de madeira e outros tipos de ligações historicamente corretos, incluindo réplicas de pregos romanos forjados à mão, fabricadas com base em achados arqueológicos.
Os moinhos ficaram com as dimensões historicamente mais aproximadas:
– O Moinho de Pilões: aproximadamente 7,5 x 5 m de base e uma altura de 3,2 m a 4,5 m, o qual estará preparado para ser movido por um boi, burro ou por dois homens, em sistema rotativo horizontal;
O moinho de marcha lenta: aproximadamente 2 x 3 m por 2,3m de altura, o qual será accionado por uma a duas pessoas através de um sistema simples.
Este foi um trabalho realizado num espaço de tempo recorde com uma equipa multidisciplinar de 11 pessoas, tendo sido inaugurado a 17 de Julho de 2015 em conjunto com o Núcleo Museológico.